domingo, 25 de fevereiro de 2007

Menina da lata

por Silvio Lourenço, em 31/03/2006


Na mesma e sempre dura hora,
nunca se demora,
madrugadora,
a filha de Dora, agora,
barriga de fora, mãos ainda suaves e um olhar onde explode tristeza
e esconde sua vertiginosa beleza,
na vida ingrata vem catando lata numa luta tola.
Natália cata latinha
pra mais tarde comê farinha
e meia salsicha se sobrar.
Vem batendo latinha com latinha,
de coca, guaraná.
Seu saco negro é um grande chocalho,
balaio de tensões intraduzíveis:
tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá,
balançando lentamente o barulho de lata amassada,
alumínio mínimo da vida que passa,
que amassa
latinha
e amassa
Natália, a menina.

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007

Jazzinho I e II

por Silvio Lourenço, em 18/02/2007

I

Esperança que se dá
a quem espera
de ser quem o ser já era

O jazz desperta
a quem insone
chama-o por qualquer nome

Se atende só
podia atendê-lo
se não era passou a sê-lo


II

O jazz tanto
O poema quanto
Um sonho.

A canção composta
O acorde resposta
Um ganho.

O jazz alegre
O riso da plebe
Empenho.

A partitura
A dor capitula
Engenho.

Se não fosse sonho
Nem houvesse ganho
De partida.

Nesse empenho
Negaria o engenho
Seria a vida.

Pendente

por Silvio Lourenço, em 14/02/2007


A correntinha
deitou sobre meu pulso
com o peso da cruz pendente
e o súplice olhar
de quem a vendia.

Suplicância
oculta pelo ray-ban
mas viva em sua voz
é a mesma simulada
no cruzeiro pendente.

O cristo marcado
mercado de sua cruz
a ilusão dos desejos
os desejos de ilusão
todos pendentes então.

Se quase comprei a corrente
mercado ficou pendente.